quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Cartinha para o Papai Noel

Querido Papai Noel,


Não sei se você se lembra de mim. Sim, muitos deixaram de lembrar de você também, eu sei. Eu sou o Erick, lembra? Aquele menininho que sonhava em ser sereio e não conseguia dormir direito na noite de Natal tamanha a ansiedade. Aquele que sempre queria um Lego de Natal. Eu espero que se lembre.

Eu queria te pedir desculpas. Tem muitos anos que eu não escrevo. Eu acredito que todos aqueles com a minha idade também tenham deixado de escrever. Sabe, conforme fomos todos ficando mais velhos a vida tornou-nos mais frios, duros e, muitas vezes, arrancou de nós os mais belos sonhos. Não foi diferente comigo.

Assumo minha culpa. Eu deixei de acreditar. Deixei de sonhar com a sua vinda todos os anos para trazer presentes e com eles a esperança de que a magia era tão real quanto a ceia na véspera do Natal, quanto a família reunida e os sorrisos. E conforme os anos foram passando, sua vinda foi se tornando mais e mais apenas um sonho, uma fantasia de criança.

Quero dizer que você não caiu no esquecimento. Não no meu coração. E pretendo me redimir da melhor forma possível: eu quero pedir um presente, como eu não faço há muitos anos. Aliás, como eu nunca fiz.

Este ano, depois de anos de ausência, gostaria de fazer alguns pedidos muito especiais. Desculpe-me, Papai Noel, não vou botar você para trabalhar na fábrica, e nem os duendes, mas meus pedidos podem dar um pouco mais de trabalho do que nos meus anos de infância, infelizmente. Então, lá vai:

1. Desejo saúde e proteção para minha família. Eles são meu verdadeiro e único tesouro. O melhor de todos os presentes. Não vivo sem eles, não conseguiria saber que não estão saudáveis e fortes para trilhar o caminho ao meu lado. Proteja-os de todos os males. Mantenha-os sempre ao meu lado, sorrindo, abraçando e beijando. Amo minha família com toda a força do meu coração.


2. Quero pedir o que eu mais desejo no mundo. Mas para tê-lo, antes preciso pedir outra coisinha. Papai Noel, me ajude a encontrar minha autoconfiança e segurança. Sei que está tudo dentro de mim, mas preciso de um empurrão. E tem que ser daqueles tipo “Pedala, Robinho”. Isso nos leva a:


3. Papai Noel. Quero minha magia de volta. Quero meus poderes que estão aqui dentro, mas não consigo por para fora. Quero-os ativos, funcionando assim como meus olhos e meus membros. Quero a magia funcionando na minha vida. Quero perceber a magia no dia a dia. Quero estar sempre alerta.


4. Quero ser bom. Quero que a luz divina brilhe através de mim. Que eu seja puro e um receptáculo apropriado para a luz. Quero equilibrar minha luz e sombra e ser um ser em perfeita harmonia. Isso iria me ajudar muito e poupar certos aborrecimentos desnecessários.


5. Quero um milagre. Quero que os seres humanos sejam melhores uns com os outros. Menos egoístas, menos avarentos, menos violentos, menos mesquinhos, menos invejosos, menos desiguais. Essa é a parte difícil. Vai te dar muito trabalho. E nem sei se vou conseguir receber esse presente no Natal deste ano. Mas gostaria muito de receber.


Bom, esses são meus cinco pedidos especiais nesse Natal. Espero não ter sido demais. Mas serão trabalhosos, sem dúvida.


Mas, se todos puderem voltar a sonhar, se todos pudessem sentir a magia do Natal de novo, seria perfeito. Não vou dizer o velho discurso de que Natal é uma festa cristã. Nós dois sabemos que não é. E não vou dizer que comemoramos o nascimento de Jesus nem nada disso. Natal é o nascimento de todos nós. Nosso renascimento no ciclo interminável que é simplesmente existir. Neste Natal eu quero renascer com todas as minhas esperanças brilhando como um Sol. E que todos despertem e renasçam assim como eu quero renascer. Que todos possam brilhar na noite de Natal, iluminando o mundo todo, enchendo a Terra como pequenas estrelas.


Quero apenas ser humano, com toda minha pequenez, mas inteiro e com luz e amor por tudo o que existe.


Espero que não esteja muito em cima da hora para meus pedidos...


Um beijo enorme! E um Feliz Natal!






Erick

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Aquela Voz

Aquela voz
Seria capaz de me levantar dos mortos
Aquela voz
Poderia me fazer rir ou chorar desesperado
Aquela voz que despertava urgência em meu ser
O grave reticente
E a expressão que vinha junto
Ao pronunciar cada palavra
Aquela voz seria capaz de me comandar
Me hipnotizar
Me fazer chorar, deitar, gemer, gritar
Me fazer amar
Aquela voz
Mais afiada que espada
Embora tão aveludada
Uma arma, um chicote
Aquela voz
Aquele som
Um sino de Notre-Dame
Ecoando em minha mente
E o Quasimodo sou eu
Aquela voz
Era minha demais
Só minha
E não é mais
Não mais ressoa em meus ouvidos
Não sei que eco ela faz
Não sei o que desperta em quem a ouve agora
O mesmo carinho ou a mesma derrota
Que despertavam em mim
Não sei se canta ou arrota
Mas cantava para mim
Canções que não esqueço
E canto quando anoiteço
Quando bebo sem parar
Quando penso num segundo
Que se foi pra não voltar
E aquela voz
Ainda vive
Quando sonho e quando acordo
Tão doce e tão amarga
Tão azeitada
Que eu tanto ansiava
Minha droga, meu inverno
Que parecia eterno
Mas findou
Aquela voz
Me mudou
Aquela voz
Me matou
Aquela voz

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A rosa na escada


Só havia cinza ao redor.
Rostos brancos a passar.
Procissão de gente
Indo a nenhum lugar.

Eu tocava as pedras frias
das paredes me cercando.
Uma cidade de sonho.
Cor sou eu, que estou amando.

Eu corro querendo você.
Meu templo, meu santuário.
Corro tentando te ver;
Um pouco de cor
num mundo grisalho.

E ao passar não sentia
nem o vento nem a estrada.
So a pressa que crescia
enquanto eu te procurava.

Via prédios ao inverso.
E eis que na escadaria,
ora certa, ora invertida,
um ponto escarlate eu avisto.

A rosa que eu perseguia
e que agora eu encontrava,
era ela, mulher, cigana,
por quem eu me apaixonava.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Eu vou te amar
Até o dia em que os Céus
Resolverem cair sobre a terra,
O mar deixar de existir
E o Sol ficar tão quente
Que a vida seria impossível.
Só deixaria de te amar
No dia em que minha alma imortal
Desaparecesse da existência.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Térmico

O que me tornei?
Todo fim tem um princípio.
A morte que sofri, me trouxe nova vida.
Não foi o que planejei
Mas mesmo assim saudei sua vinda.

Talvez seja essa a sina:
Viver me transformando
Sendo outro a cada esquina
As roupagens ir trocando
A cada passo do caminho
A cada beijo, a cada carinho
Ser frio ou estar amando.

Não consigo ser só morno
Tenho que ser fogo ardente
Sou intenso, frio ou quente.
Queimo o gelo, gelo a chama
Quando pelo meu nome chama
Inerte mas envolvente.

E quem não se apaixonou
Pela seca voz da morte
e seu gélido beijo de outono?
Quem não quer sentar no trono
Que a Perséfone pertence?
Mesmo que Deméter lamente
É com Hécate que eu sonho.

Foto de Floriana Barbu (aqui)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Rogo da Sacerdotisa

Encontrei esse texto na internet e achei ótimo para ser pensado...
Escrito por Gaia Lil

"Ainda que eu morra e viva sozinha,
Eu ainda serei a Sacerdotisa.
Ainda que só eu
Ainda respeite os Velhos Mistérios,
Eu ainda terei o controle da Teia da Vida.
Ainda que eu seja apedrejada e negada por mil anos,
Eu ainda serei a Sacerdotisa .
Ainda que eu seja difamada.
Que eu seja mal falada,
Eu ainda saberei os Mistérios do Prazer.
Ainda que mil vozes e mil espíritos
Gritem a mim :
"Teu caminho não é o da Sacerdotisa",
Eu ainda serei uma Sacerdotisa.
Ainda que me roubem as vestes sagradas,
Ainda que eu não possa queimar ervas
E comungar com os espíritos da noite,
Eu ainda serei a Sacerdotisa.
Ainda que eu esqueça todos os Mistérios,
Eu ainda serei a Sacerdotisa.
Pois uma única coisa jamais eu esquecerei:
Que eu sou a força e a vontade da Deusa
Se manifestando na Terra."

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Celebração



Não mais! - disse a mim mesmo.
E eu estava certo.
A época das dores passou,
Só que eu não estava aberto.

Mas agora é diferente.
Ando pelas ruas e vejo gente
E elas me veem também.

O preto e o branco ficaram para trás.
Só há luz nos meus olhos
Em tons de verde e azul.
Só há luz e nada mais.

Meus cabelos seguem o vento
Num balanço que me dá prazer.
Entendo a lingua da brisa,
Sei o que ela quer dizer

Escuto o chamado da Lua.
Ela canta pelo meu sangue
E me chama pra dançar a Runa
Pela noite enebriante.

E minha maré sobe e desce
Como as águas do oceano.
E no extase da dança,
no sussuro do feitiço,
na risada de criança
Eu danço...

Não mais! - digo a mim mesmo
E eu estou certo
A dor ficou no passado
E agora estou completo.