sexta-feira, 3 de julho de 2009

Embreaguez


Tenho meus dedos na boca, cobrindo-a.
Minhas unhas entre os dentes,
Mas não as roo, apenas mordo.
Mordo as unhas para não morder os lábios.
Morder não sei porque.


Quebraria pratos se eu pudesse.
Atiraria nas paredes.
Liberaria os sentimentos
Tão presos, tão densos, tão tensos,
Tão meus...


Mas de que adiantaria?
Não há alivio, só saudade.
Saudade do que?
Saudade do que não tive?
Talvez saudade do que eu queria ter.


E meus olhos tão confusos, tão molhados,
Escorrem em verde-mata,
E eu choro o que me mata:
A tristeza que me embreaga.


Mas me embreago também por dentro.
De um gole só meto pra dentro
A aguardente guardada no armário.


E como arde minha garganta,
Ao descer o quente veneno.
Rapidamente me esquento
E já não sinto mais nada.


Mas o efeito é tão curto,
Dura só alguns minutos e uma gargalhada
E a lembrança retorna amarga
E eu me ponho novamente a chorar.


Eu sei e você sabe
Que é mais importante a amizade,
Que o amor acaba em um só instante
E o que resta e só saudade.


Mas não tenho mais esperança
De ter você no meu ninho
E te dar todo o meu carinho
Um beijo de amor após uma dança.
Eis que a vida matou a criança.
Que existia no meu passado.


Depois de um tempo, eu aprendo
Que a vida é tão insegura...
O amor nunca foi uma benção.
O amor é apenas loucura...